quarta-feira, 29 de julho de 2009

Aos meus leitores

Observei agora que não vi nada... e assim é que é falar verdade.

No meu Blog há comentários e disso eu ainda não me tinha tão-pouco apercebido.

Do caso, acabo de ser avisado pela minha filha que, também ali comentando, me prediz umas lições de internet... mas ela vive a 250 quilómetros do pai... e eu que bem preciso!

O computador apenas me tem servido para ortografar desde que, há muitos anos, decidi reformar a minha velha máquina de escrever.

Tudo o mais ainda me é algo complicado.

A quem me segue e, em especial a quem teve a delicadeza dos comentários, dedico o soneto sequente.

Abraço.


Caro leitor...

De Camões não tenho a celebridade

E de Florbela não herdei as prendas.

Tenho cá dentro a necessidade:

“Fazer poemas” como quem faz rendas...



Do Bocage não tenho a agilidade.

Do Gil nem histórias, crónicas ou lendas.

Tenho um coração cheio de bondade...

Ó caro leitor, quero que me entendas!



Vou versejando, faço quanto posso...

Poema nascido, é mais um... “nosso!”...

Porquanto, és razão do meu escrever.



No pleito diário... enlouquecido!

Só penso em ti, meu amigo querido...

Eu não quero que deixes de me ler.



Leonel Olhero



quarta-feira, 22 de julho de 2009

Recordações

Amigos leitores:

Caríssimos seguidores:


De novo “à carga”, como se dizia na vida militar e em cavalaria, a minha arma como é sabido.


Este mês é-me de recordações...

Se fosse viva, a minha mãe fazia anos.

Um senhor, que foi meu comandante no Esquadrão de Bula – Guiné - fez anos num destes dias e daí o meu telefonema do Porto para o agora Coronel na reserva Henrique de Sousa, que, graças a Deus, está de saúde lá por Lisboa.

Também num dia destes o meu filho primeiro fez anos de casado e me metamorfoseou num afectuoso sogro, julgo.

Casei também num mês de Julho ... e não foi no ano findo...

Pelos trinta e muitos anos de casado ganhei já o purgatório, estou certo. Também a minha mulher ganhou o céu pelo mesmo “pecado”, tenho a absoluta certeza.

Hoje passei os olhos pelo diário que escrevi durante a vida militar e no meu livro, que apenas aguarda edição, reli que, naquele já longínquo ano de 1973, bem perto de mim, um camarada ficou estropiado por haver uma mina anti-pessoal no caminho da sua vida.

Não resisto em colocar aqui aquele bocadinho de livro.

Ei-lo!

Bula, 10 de Julho

Reunimos com o comando. O campo de minas tinha que ser entregue limpo ao novo Batalhão que vinha. As panhards iam estar próximas dos sapadores e a segurança afastada era da conta do Batalhão.

Bula, 14 de Julho, sexta-feira

Manhã inesquecível, um sol inflamado aquecia aquele lugar tristonho com atractivos que eram os de um vulgar campo de minas e vi que o furriel sapador Santos, algarvio, de vivos olhos e doido por jogar futebol, se detinha estático e resistia num abafado silêncio, de tal modo que não se lhe ouvia nem o respirar.

Do alto da torre do carro de combate, onde me empoleirava, e o emudecimento do Santos me assustava, recomendei-lhe calma.

A p... está aqui só que a não encontro, disse.

Num misto de companheirismo senti-me abarcado com ele naquela atmosfera opressiva, naquela tensão nervosa... numa espécie de um irracional desassossego e, logo depois, ouviu-se um bruto estouro.

À nossa volta, com amargura, o ar agitou-se e o amigo tombou num uivo de dor. O sopro arrepanhou-lhe a perna direita... com que fizera tão bonitos golos (!).

Que ultraje! Vi sangue devastado. Que horror! Por onde andava Deus que O não vi naquele instante?!

Um soldado maqueiro acudiu cegamente com o garrote e só por sorte não pisou uma mina também.

O alferes, que pouco tinha andado além da borda da estrada e era já por si amarelado, ficou branco e, meio desfalecido, conseguiu ao menos sentar-se na valeta e de cabeça entre as mãos chorava desditosamente enquanto toda a terra emudeceu...

Uma avioneta veio.

Quando chegámos à pista de aviação – uma dúzia de quilómetros depois - já éramos ali esperados pelo comando. O coronel dirigiu palavras de conforto ao malogrado e da boca deste ouvi: “nada é que não esperasse. Sinto pena por mais não puder jogar futebol, mas não fique triste, meu coronel”.

Amigos:

Por agora fico por aqui e sem mais palavras.

Um abraço e até breve.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Palavra de poeta!

Meus caros senhores...
leitores... seguidores e outros.
Resumindo: meus amigos!
Não vos exibo agora a minha cara porque lhe iríeis ver desenhada uma desmedida vergonha por me ter escondido num silêncio escandaloso de três meses.
Não. Não foi malandrice minha. Foi tão-só desleixo e agora me dou conta de que o tempo afinal ainda passa mais veloz do que aquilo que supomos.
Também com timidez vos digo que não sou esperto suficiente para as novas tecnologias e daí ter que sofrer... repetidamente... explicações dos meus filhos para puder navegar e eles nem sempre têm a paciência... e seria óptimo se tivessem comigo a que com eles tive.
Era bom, não era?!...
Teriam que me carregar ao colo. Mudar-me fraldas. Arranjar-me o leitinho. Estudar comigo. Brincar comigo e até... carregando-me às costas... fingir de burro.
Sim, é verdade que fiz de tudo. Qual foi o pai que o não fez?!
... E quem foi que disse que eu preciso que me mudem fraldas ou que gosto de biberão?
Alguém falou (ou escreveu) que eu preciso de estudar? Se preciso... e todos precisamos para nos irmos actualizando constantemente, verdade é que não me apetece ou, pelo menos nem sempre.
Quanto ao brincar, é coisa que até gosto, mas não tem que ser forçosamente com os meus filhos, que já não estão para me aturar e agora o que mais lhes dá jeito é que eu brinque com os filhos deles, o que até me dá prazer. São os meus netos, não é verdade?
E daqui a uns dias lá ando eu de novo a fazer de burro...
...Outra vez?!
...
“Ai, o nabo não sabe navegar na NET!” ... agora ouvi você dizer.
(Está bem! se não o disse, pensou... que eu bem sei, mas está desculpado).

Bom! Para ser sincero também não foi só por isso.
Aconteceu... acontece... e espero que continue a acontecer, que me devotei à poesia e tenho andado de volta de um livro de sonetos que no meu íntimo já “editei” e, vai daí, já o imprimi e reimprimi - efectivamente e vezes sem conta - . Cortei-lhe e recortei-lhe folhas e perdi tempos infinitos com aquelas suas rimas e descuidei-me com o meu Blog.
Fui também a algumas tertúlias de poesia.
Do fundo escuro da minha “gaveta” retirei e declamei alguns sonetos que aqui ponho a nu:


Tempestades (tema obrigatório)

Relâmpagos doidos riscam nos céus!
Trovões carregam trovões por resposta!
Anjos travessos, crianças de Deus,
Bolem, cadeiras tombam e Deus não gosta...

Um anjo traquina brinca com isqueiro
Que outra faísca relâmpago faz.
Aquele anjo lindo e tão verdadeiro
Só faz disparates... mas que rapaz!!!

Um diferente anjinho, que tão bem vi,
Mal-educado, brincou... fez chichi...
Que em feitio de chuva nos veio ter.

É por isso que, com tantas maldades,
Nos caiem lá do alto as tempestades...
E agora, que se lhe há de fazer?!...



À minha mulher (tema livre)

No meu corpo mora a poesia,
A loucura, a arte e o prazer.
Dor que me consome noite e dia
Numa ânsia de amar o meu escrever.

No meu corpo mora uma paixão
Que me aflige e gasta até às entranhas...
Me escraviza; me quebra o coração...
Noites que não durmo, e são tamanhas!!!

No meu corpo mora o teu amor...
No meu jardim tu és a minha flor.
No teu corpo quero eu viver.

Assim, eu e tu já não somos dois,
Nossa vida tem estrelas... outros sóis!...
No teu jardim eu quero florescer!



Maio, maduro Maio (tema obrigatório)

Num coração sofrido e depravado
Guardo-te Maio, tão resplandecente.
Minha alma vê em ti um mês sagrado...
Que aproveita que exista um mês diferente.

Maio, maduro Maio ! - Tão nobre hino! -
De rosas coberto e engalanado.
De pássaros vestido - fugaz destino! -
Que entoam poemas por todo o lado.

Cucos, nas tuas manhãs deslumbradas
Que em mística hipnose nascem sagradas,
Cantam doces notas... estonteantes...

E eu, ó Maio, pasmo embriagado
Pelo teu incenso assim perfumado,
Que num feitiço impele tantos amantes!



À Ana (tema livre)

Foi tão triste a noite em que não dormi...
Que néscio sono de mim nada quis.
Num desespero louco, então, fugi.
Numa praia longe... fui tão feliz!

Cobriu-me o luar na noite tão fria.
Sonhei lindo!... matei até desejos...
Mais tarde acordei... o sol se via...
Cingi garota que me encheu de beijos.

Com afecto, perguntei quem era.
Refutou rindo: “sou a Primavera”.
Minha linda!...você, não me engana...

Disse-lhe ao ouvido, jogando eu.
Deu-me beijos... muitos... e respondeu:
-Pois não, só brincava... eu sou Ana.



Espigas (tema obrigatório)

Queria tanto ao teu colo voltar!...
Mãe, que te foste para luto meu.
Ser pequerrucho... de novo brincar
Com a mãe que tive e que Deus me deu.

Queria tanto contigo passar
Noites de histórias com estrelas no céu.
Rir contigo... ou contigo cantar
A nossa canção que jamais morreu.

Queria-te tanto, para te olhar
Na nossa casinha... tão doce lar...
Pegar nas tuas mãos magras... formosas!

Queria tanto ter-te comigo...
Catar no campo espigas de trigo.
Colher p’ra ti braçadas de rosas.



Esfolhadas (tema livre)

Na minha aldeia, noites de esfolhadas
Eram lindas e cheias de magia!
Iam rapazes... todos às molhadas...
Ter com as moças, que por lá havia.

Viam-se espigas em mãos atiladas,
Que punham a nu o grão, com mestria.
Cantavam raparigas... com risadas...
Como se fossem... começar o dia.

Encobriam fruta... Beijos negavam,
Aos rapazes que lhos mendigavam...
Mas abonavam-nos... que eu bem o sei:

Às escondidas... era aos namorados...
E às avistas, aos afortunados...
S’ acaso encontrassem um milho rei.


Depois de tudo isto deixo-lhe, meu caro, uma promessa: “ não vou repetir outro silêncio longo quanto este”. Palavra de poeta!
Para ti, que andas espreitando este blog, deixo um desafio: "Segue-me e dá-me a tua opinião". Aceito críticas desde que sejam construtivas. Isto serve para ti António Vitor C.C. (ex-furriel das Panhards de Bula que lá de longe - Angola - me andas seguindo "mas escondido". Um abraço especial para ti.
Um abraço e até breve.