sexta-feira, 13 de março de 2009

Poemas aos meus chefes

Bom dia!

Hoje o meu dilecto amigo António faz anos.

Como sempre, desde que deixámos de ser colegas, vai a caminho de uma dúzia de anos, ele recebe um telefonema meu neste dia. Não falha!

O senhor doutor no BPI, mais conhecido por António “grande” entre os amigos, hoje espicaçou-me...

Ele já se deleitava com os meus versos, quando ambos arruinávamos os nossos olhos na secção de Recolha de Dados, no então Banco Borges & Irmão e não posso esquecer o quanto por ele fui defendido numa reunião em que me quiseram puxar as orelhas, no já longínquo dia 20 de Maio de 1987...

como o tempo passa!

Naquela época “descobri” que o chefe de divisão, o senhor Soares e o subchefe de secção, o senhor Batista, eram António e João, respectivamente.

Quanto ao chefe de secção, esse era Pedro, que Deus lá tem, e por tal nome era tratado e, vai daí, cá o rapaz viu neles os três santinhos populares...

Fiz uns versos, que se reproduziram de forma inconcebível e fotocópias, de mão em mão, correram o Banco... só os três desconheciam...

O já saudoso Joaquim de Sousa, o amigo Artur Enes e o Pedro Sá, directores no Processamento, não se coibiam de tratá-los por “santinhos” e, antes que viessem a desmontar a intriga, dias depois eu mesmo lhes facultei aqueles e, afora o João, não gostaram.

Dias mais, a polémica reunião com todos os colegas e chefias. Vi-me grego e dos poucos a erguer a voz em minha defesa foi o “grande” António, além do meu amigo “S. João” que viu naquilo arte e não sátira.

Pelo alarido, só por isso, guardei os versos e eu tinha feito até ali muitas dezenas, que nunca conservei.

Foi também a contar daquele dia que passei a preservar todos os demais e hoje tenho cerca de meio milhar deles.

Bem sei que muitos não têm a beleza de outros mas, guardei-os a todos e os ditos ponho-os à luz; depois de terem andado escondidos nos bolsos de "meninos" e nas carteiras de tantas "meninas", meus colegas.


Aos meus chefes:


Foi Santo António comprar,

com o amigo S. João,

umas cartas de jogar,

p'ra fazer grande serão.


S. João, que é divertido,

Mostrou-se muito interessado

mas, que tinha resolvido;

Queria Pedro convidado.


S. Pedro chegou, por fim,

vinha alegre e mui feliz;

Convidou-me então a mim

mas, aí eu fui juiz.


-Pedro, cartas?! Isso não.

Eu vou já, mas é p'rá farra!...

vem daí, caro João

e trás a tua guitarra.


Outro remédio não há,

disse Pedro com fulgor.

ó António, anda lá!

não te esqueças do tambor.


Fomos os quatro p'rá rua,

com foguetes a estoirar.

Vieram estrelas e lua...

muito povo p'ra brincar.


Noite adentro foi bailar

na noite de S. João.

No fogo fomos queimar

o baralho, pois então!


Porto, 20 de Maio 1987

Leonel Olhero

terça-feira, 10 de março de 2009

Noites de poesia

Cá estou eu!

Que ninguém pense que me esqueci de vir à minha escrita. Não, não é o caso até porque a minha história há muito que está feita.

Acontece que nestes dias de ausência me andei a divertir com a poesia que fui escondendo na gaveta durante algumas décadas.

Pela primeira vez li em público, no salão nobre da Junta de Freguesia de Vermoim, Maia, poemas da minha autoria e já repeti o feito voltando ali e quero mais...

Comecei por ler o último que tinha feito. O que possivelmente será mais lido. Quem sabe! Talvez venha um dia a ficar mais exposto.

Ei-lo:

 

Para a minha lápide:

 

Aqui jaz Leonel, homem excelente,

aquele que nesta vida bem gozou.

Comeu, bebeu... brincou... não foi diferente;

comprou casas, carros; tudo pagou.

 

Abalou deste mundo satisfeito,

levou cigarros e vinho à mistura.

Deixa neste mundo amigos, do peito.

Agora está no Céu... mas que ternura!

 

Descansa-lhe o corpo frio neste Chão.

Do Alto ele olha para aqui, sorrindo

e deixa-te um recado, ó meu irmão:

“também tu serás um dia bem-vindo”.

 

Ermesinde, 4 de Fevereiro 2009

Leonel Olhero

 

Na segunda vez li, já no novo e bonito edifício daquela autarquia os que vos deixo.

 

Tema obrigatório:

 

Chuva

 

São deleitosas lágrimas de um deus

banhando pátrias, almas e jardins;

Pérolas lindas tombando dos céus

varridas por Anjos e Querubins.

 

Deus distraído chorando um amor

que por acaso não teve... ou não quis.

Orvalho aprazível beijando flor...

mas, aquele bom deus porfia feliz.

 

É doce pranto divino caindo...

O mundo molhado fica tão lindo

em contínuos poemas de alegria!

 

Enquanto deus chora o amor errante

tudo no mundo se torna diferente...

tudo é fascínio! tudo é magia!

 

Ermesinde, 18 de Fevereiro 2009

Leonel Olhero

 

“Lido na noite de poesia de Vermoim, 7 de Março 2009”

 

Li ainda:

 

 

Chorando

 

Eu choro e tenho razão,

ficam-me as faces molhadas,

crianças morrem sem pão...

os ricos em jantaradas.

 

Este mundo desigual

para tantos mundo cão,

a muitos trata-os os mal

recusando o simples pão.

 

Ó mundo tão corriqueiro

proteges quem tem dinheiro,

és só terra, lixo, pó.

 

És mundo no fim do mundo,

és tão porco, sujo, imundo...

és mundo que metes dó.

 

Ermesinde, 10 de Novembro 1987

Leonel Olhero

 

(21 anos depois de ter nascido viu a luz do dia)

 

 

Amigo, volte aqui.

Eu também prometo tornar à história da Guiné.

Um abraço, e já agora, por que não seguir o meu blog?!

quarta-feira, 4 de março de 2009

A promessa

- Fiz vinte anos e repetidas vezes falas que andastes na guerra de África. Pai, queria que me contasses as tuas aventuras lá vividas. Como foi?

- É verdade, meu filho, andei lá, não eras Luís Filipe e os teus mais velhos irmãos não eram nascidos ainda; para lá fui com a idade que tens. Contar-te  os sacrifícios, as privações e os divertidos momentos, houve-os também, dá-me até um certo gozo e agrado. Recordar aqueles tempos é reviver mais de dois anos da minha já fugaz juventude, dá-me saudade, mas aventuro escrever um livro que te destino, ofereço-o aos teus irmãos e dedico-o à tua mãe, a minha querida namorada daqueles tempos.

Vão três décadas que retornei.

Milheiros trilharam os mesmos sítios e numa luta fratricida, muitos não sentiram a incomensurável alegria do regresso. Caíram ingloriamente...

Não te falo agora de camaradas que, pisando minas, voltaram intempestivamente estropiados para junto das suas famílias. Não te conto já, mas lá chegarei, como adormeceu para a eternidade um colega de quarto e no dia  seguinte outro se abateu no mesmo triste sono perpétuo...

Cuido dizer-te ainda a minha vida militar até que um grande navio me levou até àquele tórrido continente e não posso e  nem devo esquecer milhares, forçados a deixar as famílias para combater e amargar em África. Para todos eles alteio o pensamento e dirijo estas linhas não ignorando que muitos persistem estigmatizados pela guerra e andam por aí ainda apavorados com problemas e tantos... coitados! ... fazem filas nos consultórios dos psiquiatras.

Que ninguém finja que  não existem porque todos os dias cruzamos com eles. Cruel e triste realidade! Disfarçar, não! Nem vale a pena e repugna-me que políticos mentirosos impunemente o tenham feito.

Leitor: deixe que mande à... sim, à merda, alguns daqueles políticos, assente-se no seu cadeirão preferido, ponha a tocar a sua música predilecta, evada-se da malícia dos cuidados de todos os dias e fuja da rotina, esqueça o que lhe possa parecer incómodo e continue a ler, antes que pausadamente a memória nos apodreça. Vire, uma a uma, as páginas a este livro recheado de antigas recordações que afectuosamente lhe consagro e vai reviver negra época da nossa história em que milhentos jovens sofreram amarguradamente para defender a Pátria daqueles dias.

Venha daí!