Amigos leitores:
Caríssimos seguidores:
De novo “à carga”, como se dizia na vida militar e em cavalaria, a minha arma como é sabido.
Este mês é-me de recordações...
Se fosse viva, a minha mãe fazia anos.
Um senhor, que foi meu comandante no Esquadrão de Bula – Guiné - fez anos num destes dias e daí o meu telefonema do Porto para o agora Coronel na reserva Henrique de Sousa, que, graças a Deus, está de saúde lá por Lisboa.
Também num dia destes o meu filho primeiro fez anos de casado e me metamorfoseou num afectuoso sogro, julgo.
Casei também num mês de Julho ... e não foi no ano findo...
Pelos trinta e muitos anos de casado ganhei já o purgatório, estou certo. Também a minha mulher ganhou o céu pelo mesmo “pecado”, tenho a absoluta certeza.
Hoje passei os olhos pelo diário que escrevi durante a vida militar e no meu livro, que apenas aguarda edição, reli que, naquele já longínquo ano de 1973, bem perto de mim, um camarada ficou estropiado por haver uma mina anti-pessoal no caminho da sua vida.
Não resisto em colocar aqui aquele bocadinho de livro.
Ei-lo!
Bula, 10 de Julho
Reunimos com o comando. O campo de minas tinha que ser entregue limpo ao novo Batalhão que vinha. As panhards iam estar próximas dos sapadores e a segurança afastada era da conta do Batalhão.
Manhã inesquecível, um sol inflamado aquecia aquele lugar tristonho com atractivos que eram os de um vulgar campo de minas e vi que o furriel sapador Santos, algarvio, de vivos olhos e doido por jogar futebol, se detinha estático e resistia num abafado silêncio, de tal modo que não se lhe ouvia nem o respirar.
Do alto da torre do carro de combate, onde me empoleirava, e o emudecimento do Santos me assustava, recomendei-lhe calma.
A p... está aqui só que a não encontro, disse.
Num misto de companheirismo senti-me abarcado com ele naquela atmosfera opressiva, naquela tensão nervosa... numa espécie de um irracional desassossego e, logo depois, ouviu-se um bruto estouro.
À nossa volta, com amargura, o ar agitou-se e o amigo tombou num uivo de dor. O sopro arrepanhou-lhe a perna direita... com que fizera tão bonitos golos (!).
Que ultraje! Vi sangue devastado. Que horror! Por onde andava Deus que O não vi naquele instante?!
Um soldado maqueiro acudiu cegamente com o garrote e só por sorte não pisou uma mina também.
O alferes, que pouco tinha andado além da borda da estrada e era já por si amarelado, ficou branco e, meio desfalecido, conseguiu ao menos sentar-se na valeta e de cabeça entre as mãos chorava desditosamente enquanto toda a terra emudeceu...
Uma avioneta veio.
Quando chegámos à pista de aviação – uma dúzia de quilómetros depois - já éramos ali esperados pelo comando. O coronel dirigiu palavras de conforto ao malogrado e da boca deste ouvi: “nada é que não esperasse. Sinto pena por mais não puder jogar futebol, mas não fique triste, meu coronel”.
Amigos:
Por agora fico por aqui e sem mais palavras.
Um abraço e até breve.
Leonel Olhero, recordar é viver, e viver é saber compartilhar com os amigos, meus cumprimentos ao seu espaço, que faço questâo de ser uma seguidora,
ResponderEliminarcom admiraçâo,
Efigenia Coutinho
Escritora